A expansão do acesso à internet em áreas desatendidas ainda enfrenta desafios significativos como altos custos de implementação e obstáculos regulatórios. A construção de infraestrutura nas regiões de baixa densidade populacional requer investimentos substanciais, muitas vezes não compensados pelo retorno financeiro esperado. Além disso, os processos burocráticos podem atrasar a implementação de projetos nessas áreas.
Contudo, as iniciativas colaborativas entre provedores de internet, governos e as comunidades têm mostrado resultados promissores na redução dessas barreiras. Parcerias público-privadas podem ser fundamentais para a expansão das telecomunicações em áreas rurais. Governos podem fornecer incentivos fiscais, subsídios e outras formas de apoio para atrair investimentos privados. Além disso, as colaborações entre diferentes empresas de telecomunicações e organizações não governamentais podem facilitar a implementação de projetos em comunidades carentes.

Em mais do 35% dos lares que não possuem internet, o motivo é falta de cobertura ou custos – fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ações governamentais
Cada país adapta sua abordagem com base na geografia, nas condições econômicas e no nível de concorrência do mercado.
A desigualdade social dificulta o acesso à internet, e as diferenças regionais e a exclusão digital são problemas recorrentes.
No Brasil, tivemos o caso do REPNBL, lançado para conseguir investimentos em infraestrutura de banda larga, principalmente em áreas rurais ou carentes de serviços.
Embora o programa tenha apoiado o crescimento de provedores regionais, permitindo que concorram melhor com as grandes operadoras, e tenha contribuído para a expansão da fibra em áreas remotas, ele não alcançou os resultados esperados, resultando em muitas obras inacabadas (que precisaram ser concluídas pelo setor privado), além das demoras causadas pela burocracia e pelos longos processos de aprovação de projetos.
O recente BNDES Fust também oferece apoio a pequenos e médios provedores para aquisição de equipamentos de telecomunicações com o objetivo de modernizar redes, sobretudo, em regiões com menor densidade de penetração do serviço, como Norte e Nordeste.
A desigualdade social no Brasil dificulta o acesso à internet, e as diferenças regionais e a exclusão digital mantêm o ciclo de pobreza, restringindo a conexão de comunidades marginalizadas e ampliando as disparidades sociais.
Na Alemanha, em 2022, o governo lançou a “Gigabit Strategy”, que tem como objetivo expandir redes de fibra óptica em todo o país, abrangendo todos os domicílios e empresas, tanto em cidades quanto em áreas rurais, até 2030. Além disso, a estratégia busca garantir banda larga móvel de alta velocidade em todos os locais onde as pessoas vivem, trabalham e viajam até 2030, com metade dos domicílios e empresas já conectados até o final de 2025. Tudo em conjunto com um registro que reunirá e disponibilizará informações relevantes sobre a expansão da fibra óptica e da conectividade móvel, aumentando a transparência.
O governo federal destinou aproximadamente 12 bilhões de euros em subsídios para promover a implementação da fibra óptica. Esses fundos cobrem 50% a 70% dos custos de implantação das redes de gigabit e 100% das despesas com consultoria externa e serviços de planejamento.

Custo médio da internet expresso como percentual da renda líquida, por país – fonte: walletwyse.com / numbeo.com
Nos Estados Unidos, o Connect America Fund (CAF) funcionou desde 2011 até 2020 em diferentes fases. O programa foi criado para expandir o acesso à banda larga em áreas rurais ou sem serviço.
Enquanto os resultados do programa foram aceitáveis, logo as pesquisas demonstraram que muitas das áreas-alvo continuavam sem ser atendidas, e que apenas 33% das áreas onde foi implantado o serviço conseguiu atingir a velocidade mínima aceitável pela FCC (10 Mbps), isso mostra que a qualidade do serviço continuou sendo inadequada, o que demonstra que as iniciativas não são tão simples.
Também no Texas, em 2025, o estado está lançando um programa piloto de subsídios de US$ 30 milhões para apoiar a implantação de serviços de banda larga via satélite de Órbita Terrestre Baixa (LEO) em áreas rurais e sem serviço, focando principalmente nas áreas que não foram adequadamente atendidas pelos demais programas voltados para fibra.
Investimentos em infraestrutura
Com certeza, ampliar o acesso à internet exige investimentos em infraestrutura, especialmente em regiões afastadas. Como nos exemplos anteriores, expandir redes de fibra óptica, melhorar a conectividade móvel e adotar soluções via satélite são passos fundamentais para reduzir a exclusão digital. Assim como as rodovias aproximam cidades, uma internet acessível integra comunidades ao ambiente digital.
Programas de investimento, fundos e isenções fiscais são algumas das estratégias governamentais para incentivar as expansões em áreas com baixa densidade populacional
Há outras pequenas alternativas público-privadas, que sempre ajudam: o uso da infraestrutura pública para reduzir custos, as parcerias entre provedores regionais, as cooperativas. Todas são baseadas num modelo colaborativo, é difícil conseguir a inclusão digital sem aquilo presente.
Benefícios para o provedor
Então, por que os provedores deveriam considerar atender áreas de baixa renda? Aqui estão alguns motivos importantes:
- Aumento da participação de mercado: Atender áreas de baixa renda permite que os provedores alcancem um mercado antes negligenciado, ampliando a base de clientes e participação de mercado.
- Incentivos governamentais: Aproveitamento dos incentivos frequentemente oferecidos, como subsídios e créditos fiscais, para estimular a expansão da infraestrutura nessas regiões.
- Responsabilidade social: Fornecer acesso à internet para comunidades de baixa renda demonstra compromisso com a responsabilidade social e contribui para o bem-estar dessas populações.
- Sustentabilidade a longo prazo: Investir nessas áreas pode gerar fidelização, pois as comunidades tendem a permanecer leais aos provedores que investiram em sua conectividade.
O potencial dos provedores de internet é sempre enorme, e eles desempenham um papel crucial na inclusão digital. É possível abordar os problemas existentes, enfatizando ações positivas e oportunidades para o setor. A colaboração entre diferentes setores é essencial para superar os desafios e garantir que todos tenham acesso aos benefícios da conectividade digital.
Adrian Lovagnini



